TALVEZ O CÉU SEJA REALMENTE VERDE, E NÓS APENAS SEJAMOS DALTÔNICOS Um curso intensivo sobre como resgatar a narrativa e o pertencimento, de uma infodistopia a um salão multiespécies. Texto por Johan Grimonprez A quem pertence a nossa imaginação num mundo de vertigem existencial onde a verdade se tornou um refugiado náufrago? Não é o contador de histórias que consegue conter contradições, que consegue transitar entre as línguas que nos foram dadas e que consegue tornar-se um viajante do tempo da imaginação? O escritor uruguaio Eduardo Galeano certa vez cunhou a ideia de que não somos feitos de átomos, como dizem os cientistas, mas sim de histórias. As histórias são o que nos mantém unidos — ou nos separam, moldando a nossa própria ideia de pertencimento. Ironicamente, o escritor Maurice Blanchot chamou a linguagem de um ato de assassinato, porque nomear as coisas seria o mesmo que matá-las. Mas o romancista Alfred Döblin afirma exatamente o oposto: a linguagem, diz ele, é uma forma de amar os outros, a linguagem nos permite saber por que estamos juntos. Mas talvez, uma descrição mais pertinente seja a ideia da cineasta vietnamita Trin-Min Ha de que a linguagem é um “barco furado”. Um bote salva-vidas em que estamos todos presos juntos. É o ponto de encontro que desaparece, mas também a mesma biosfera terrível que todos compartilhamos. Muitas vezes penso que vivemos em uma sociedade privada de algo essencial, sem nem mesmo ter consciência do que realmente nos falta, já que nos faltam histórias e conceitos. Não é diferente da cena final do filme Alphaville, de J.-L. Godard, que retrata uma sociedade na qual qualquer palavra relacionada à ideia de amor é proibida sob pena de pena de morte. E a atriz Anna Karina, apaixonada pelo protagonista, busca expressar seus sentimentos, mas não encontra as palavras, pois a ideia de amor lhe é estranha, ela nunca aprendeu seu conceito. Dialogando sobre aplicações contraculturais, incluindo nossa própria narrativa em nossa própria prática artística e/ou cinematográfica, no que a escritora Rebecca Solnit afirma ser o “dever do deleite”, encontrar novas maneiras alegres de contar, descobrindo como nos encaixamos enquanto coreografamos novas histórias que compartilhamos. Não como vítimas do futuro paralisado pelo niilismo distópico, mas para colher novas metáforas e histórias não contadas geradas por perguntas melhores que podem inventar novas linguagens, “ferramentas para as incríveis e maravilhosas possibilidades para as terríveis realidades que enfrentamos”.
Presencial JOHAN GRIMONPREZ Johan Grimonprez é um artista multimídia, cineasta e curador belga. Conhecido por seus filmes Dial H-I-S-T-O-R-Y (1997), Double Take (2009) e Shadow World: Inside the Global Arms Trade (2016), baseado no livro de Andrew Feinstein. Grimonprez escreveu e dirigiu o documentário Trilha sonora para um golpe de estado (2023) nomeado aos Oscar® 2025 e premiado no Festival de Sundance com o Cinematic Innovation Award.
Pitching Campanha de Impacto Dando prosseguimento à 4ª edição do Histórias que Ficam, a Fundação CSN dá início à mais uma etapa do programa, o Pitching Campanha de Impacto, que acontecerá durante o DOCSP, na Unibes Cultural, em São Paulo, dia 7 de agosto das 16h30 às 19h. Três documentários contemplados na 4ª edição do Histórias que Ficam apresentam suas campanhas de distribuição de impacto para um painel de convidados e para o público do setor audiovisual. Após o pitching será anunciado o vencedor do prêmio Campanha de Impacto que investirá R$100.000 na divulgação do projeto selecionado. “Aqui não entra luz” direção Karol Maia – produção Paula Kimo “Boy” direção Michel Carvalho – produção Fernando Sapelli “Encontrando Norma” direção Lívia Perez – produção Giovanni Francischelli André Leonardi, Gerente Geral da Fundação CSN destaca: “na Fundação, acreditamos na capacidade de transformação social do cinema. Os projetos selecionados têm um potencial contribuição com a educação e a cultura, assim como de provocar a reflexão no público que os assistirão. E investir em documentários como esses, que trazem temas de impacto e de relevância para a sociedade, é o que nos motiva a continuar buscando e incentivando obras de grande qualidade artística e cultural”. O programa Histórias que Ficam conta com patrocínio da CSN, parceria do DOCSP, Unibes Cultural e realização da Fundação CSN e Ministério da Cultura via lei de incentivo à cultura. Sobre o programa Histórias que Ficam A Fundação CSN – braço social da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – lançou o programa em 2011 como parte do seu propósito de transformar vidas e comunidades por meio do desenvolvimento social, educacional e cultural. Acreditando no potencial transformador do cinema, a CSN já patrocinou 54 filmes nacionais, sua maioria, de caráter documental, dentre eles, doze pelo Programa Histórias que Ficam. O Programa nasceu com o objetivo de contemplar toda a cadeia produtiva do audiovisual – do desenvolvimento do projeto até a sua exibição. Os projetos selecionados em suas edições receberam o apoio criativo para a produção de suas obras, cujos projetos de novos documentaristas foram escolhidos por seu caráter de relevância à sociedade brasileira.
'O PRÍNCIPE DE NANAWA' Estudo de caso por Clarisa Navas Para mim, fazer um filme sempre começa com um desvio, uma deriva inesperada que te faz perder o controle. Dez anos atrás, enquanto filmava uns curtas-documentais para a televisão, conheci Ángel em um mercado em Nanawa (na fronteira entre Paraguai e Argentina). Ele tinha apenas 9 anos, mas insistiu em ser entrevistado. Quando ele começou a falar, eu não conseguia acreditar em tudo o que aquele garotinho estava pensando, questionando e sentindo. Quando nos despedimos, ele me fez prometer que não o esqueceria. A partir daquele encontro, filmamos “O Príncipe de Nanawa” por 10 anos. Conhecer leva tempo. E para que as imagens que todxs tentamos segurar desapareçam e outras novas possam emergir é preciso tempo, e é preciso “estar lá”. Que possibilidades existem para um cinema de “estar lá” quando os processos e a lógica industrial da produção tentam tornar o tempo “eficiente” e “produtivo”? Como podemos nos desvencilhar desse “fazer o tempo produtivo”? Um cinema de estar lá é o completo oposto. Às vezes, nem filma; o tempo não produz nada. O tempo é outra coisa, um fluxo que continuamente se modifica, contradiz, encontra, produz variações e repetições. Enquanto isso, estamos lá, criando imagens enquanto esperamos. Muitas vezes me perguntei: “O que esperamos que aconteça?” quando as coisas ao nosso redor parecem seguir apenas o caminho do inevitável. No entanto, a vida às vezes nos surpreende. Abrir-se para isso talvez seja um dos maiores trunfos do cinema nesta época de desimaginação generalizada. Mais do que apenas encenação, cada momento deste filme pediu colocar o corpo em uma experiência, permitindo que a luz do momento respingasse e o enquadramento se adaptasse para que a vida pudesse seguir seu curso sem tanta autoconsciência. Este será um estudo de caso de um processo que transformou nossas vidas e que foi realizado contra muitos dos impossíveis do presente. Às vezes, também penso que é uma espécie de manifesto em um tempo de estéticas cuidadas e controle extremo sobre tudo o que acontece — ou melhor, sobre o que não acontece — nos filmes. Algo como se deixar levar sem uma premissa, uma forma política sem programa, que sustenta a ideia de que talvez, hoje, um gesto radical seja simplesmente estarmos juntos, nos acompanharmos.
Presencial CLARISA NAVAS Clarisa Navas (Argentina) é diretora e roteirista. Dirigiu “El principe de Nanawa”, vencedor do Grand Prix, Visions du Réel 2025. Seu segundo longa-metragem, “Las Mil y una”, abriu o Panorama Berlinale 2020; “Hoy Partido a las 3”, estreou na Competição Internacional BAFICI 2017, ambos filmes ganharam prêmios em numerosos festivais internacionais. É professora na ENERC. Dirigiu a seção ABC BAFICI. Atualmente, colabora como mentora em vários laboratórios de roteiros e projetos. Faz parte do coletivo de criação Yagua Piru Cine, no nordeste argentino.
SEMINÁRIO DE INTERNACIONALIZAÇÃO Caminhos para a internacionalização de filmes, projetos e carreiras de profissionais do documentário Através de apresentações e diálogos, fundos, mercados e festivais internacionais se posicionam em relação às estratégias e possibilidades para a internacionalização de projetos, filmes e talentos no mercado internacional para documentários.
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